segunda-feira, 25 de junho de 2007

ISADORA DUCAN

UM POEMA

Nietzsche assinou seu
último telegrama “Dionísio crucificado!”
Talvez eu seja a madona que sobe o calvário dançando.
Oh Dionísio, Porte-Flambeau
Ilumine-me o caminho em chamas

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NUA DIANTE DO MAR

Na infância,
não tive brinquedo ou brincadeiras de criança.
Muitas vezes fugia sozinha para as florestas
ou à praia junto do mar,
e lá dançava.
Sentia que meus sapatos e roupas apenas estorvavam.
Meus sapatos pesados eram como correntes;
minhas roupas eram minha prisão.
Por isso, eu tirava tudo.
E sem olhos me espiando,
inteiramente só,
eu dançava nua diante do mar.
E parecia-me que o mar e todas as árvores
dançavam comigo.

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POR UM PEDAÇO DE PÃO

Por necessidade,
eu, uma menininha de quatro anos,
fui forçada a dançar diante do público.
Por isso não gosto que crianças dancem diante do público
por dinheiro,
porque eu própria sei o que significa
dançar em troca de um pedaço de pão.

...
RODEADA DE CHAMAS

Os deuses vendem caro seus dons.
A cada alegria corresponde a uma agonia.
Por aquilo que concedem em fama, fortuna, amor,
extraem em sangue e lágrimas,
e profunda tristeza.
Estou continuamente rodeada de chamas.

...
PRINCÍPIOS ESTREITOS DE UM TEMPO

Naquele tempo minha mãe era jovem e linda,
mas, amaldiçoada com os estreitos princípios burgueses,
não sabia usar sua juventude e beleza
nem sua indomável inteligência força.
Estava na prisão daqueles tempos
antes da Emancipação das Mulheres.
Sentimental e virtuosa,
só sabia sofrer e chorar.


SÓ QUERIAM O CORPO

Isso que a humanidade chama de amor
é apenas outra forma de ódio.
Na carne não existe amor.
Tive tanto quanto qualquer pessoa dessa coisa que os homens se atrevem a chamar amor –
homens espumando pela boca -,
homens chorando que iam se matar
se eu não retribuísse o seu amor:
amor – podridão!
.
Eu era assediada de todos os lados
por todos tipos de homens.
O que ele queriam?
Suas emoções,
sei disso agora,
eram as mesmas que sentem por uma garrafa de uísque.
Eles dizem à garrafa:
“Estou com sede. Quero você.
Quero esvaziá-la.
Quero possuir você inteira.”
E para mim diziam as mesmas coisas:
“Tenho fome. Quero você.
Quero possuir seu corpo e sua alma”,
Ah, eles acrescentara a alma,
Tudo bem,
Quando queria era o corpo!

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AMOR À HUMANIDADE
Amor é coisa rara do mundo.
Até amor materno é em grande parte egoísta.
Um gata ama seus gatinhos até certa idade.
Pessoas falam de amor materno como a coisa mais sagrada do mundo –
Ora, é apenas como amar seus braços e pernas,
é simplesmente amar uma parte de sai mesma.
Esse não era o amor que eu queria.
Eu queria um amor puro e altruísta,
o amor pela humanidade,
sentido por Cristo, Buda e Lenin

...
DEUSES INVENTADOS

Pessoas inventam deuses para agradarem a si mesmos.
Não existem outros.
Nada existe além do que conhecemos, inventamos
ou imaginamos.
Todo o inferno
está bem aqui na Terra.
E todo o paraíso.


..............
Os presentes textos não foram escritos como poema (exceto “Um poema”), foram extraídos dos seus livros My Life e The Art of Dance, condensados e editados aqui pela L&PM Pocket no livro “Isadora – Fragmentos Autobiográficos” - tradução de Lya Luft - e formatados como poemas por Célio Pires.

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